As coberturas aqui descritas são as mais utilizadas, atualmente, para o tratamento de lesão por pressão.
As coberturas são medicamentos ou materiais a base de tecidos, que entram em contato com a lesão, e tem finalidade terapêutica. Portanto, curativo e cobertura, neste post, são sinônimos.
Vale destacar que cabe à equipe de enfermagem, sob liderança do enfermeiro, definir qual a melhor linha de tratamento a depender do caso clínico do paciente. Isso é respaldado pelo resolução do Conselho Federal de Enfermagem nº 567/2018.
As principais coberturas utilizadas para realizar o curativo de lesão por pressão são:
- Gaze estéril embebida com soro fisiológico a 0,9%.
- Cobertura do Tipo Tela Rayon não aderente.
- Alginato de Cálcio com Prata.
- Carvão ativado com prata.
- Hidrocolóide em Placa.
- Ácido Graxo Essencial (AGE).
- Creme barreira.
- Hidrogel Com ou Sem Alginato.
- Papaína.
- Colagenase.
Gaze Estéril Embebida com Soro Fisiológico a 0,9%
A gaze é uma das coberturas mais utilizadas em ambiente hospitalar, devido à várias características: é barata, econômica, de fácil esterilização e fácil aplicação e remoção.
Vale lembrar que no caso das lesões por pressão, o indicado é SEMPRE umedecer a cobertura que entrará em contato com o leito da lesão com soro fisiológico ou ácidos graxos essenciais (AGE). Isso facilitará a remoção e propiciará um ambiente úmido, que ajudará na cicatrização.
Em relação ao seu uso, evite cortar a gaze, uma vez que ela poderá soltar minúsculos “fiapos” que vão entrar em contato com o leito da lesão e prejudicar a cicatrização por serem percebidos como copo estrando.
A gaze também pode ser utilizada para realizar dois tipos de desbridamento: mecânico e autolítico. Confira esse post sobre os tipos de desbridamento.
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Período de troca do curativo: a cada 24 horas, ou conforme grau de saturação ou sujidade.
Coberturas do Tipo Tela Rayon Não Aderente
É uma cobertura do tipo compressa em formato de tela, composta por fibras de celulose. Sua principal vantagem é de que ela não irá aderir/grudar no leito da lesão, facilitando sua remoção.
Nesse sentido, ajuda a proteger a lesão evitando traumas ou perdas de tecido local. Em comparação à gaze, apresenta um valor um pouco mais elevado.
Essa cobertura pode ser umedecida com ácidos graxos essenciais ou soro fisiológico. Algumas empresas que fabricam esse material já disponibilizam o curativo em embalagens individuais já embebidos de ácidos graxos essenciais.
Período de troca do curativo: a cada 24 horas, ou conforme grau de saturação ou sujidade.
Coberturas de Alginato de Cálcio com Prata
Esse curativo é composto por 85% de alginato de cálcio (uma substância bactericida) + 15% caboximetilcelulose – um composto derivado de algas marinhas que auxilia na absorção de exsudado + íons de prata (ação bacteriostática).
Essa cobertura é indicada para lesões de média a alta exsudação. Seu principal papel é o de absorção e controle bacteriano, pois isso, ele não deve entrar em contato direto com as bordas da lesão (pois pode resseca-las e lesioná-las) nem com tecido de granulação.
Ele pode ser recortado ou inserido em bolos dentro de lesões cavitárias.
Período de troca do curativo: ele pode ficar na lesão por até sete dias. No entanto, pode ser necessário realizar a troca com antecedência, se o curativo estiver saturado ou sujo.
Carvão Ativado Com Prata
Esse curativo é composto por um tecido interno impregnado de carvão ativado (neutraliza odores) + íons de prata (ação bacteriostática).
Sua principal indicação é para lesões com média ou alta exsudação, com odor forte.
Diferentemente do alginato de cálcio com prata, esse curativo não pode ser recortado, pois pode causar o extravasamento de partículas do carvão para fora do curativo. Essas partículas podem entrar em contato com a lesão e prejudicar a cicatrização, pois são entendidas como corpos estranhos.
Período de troca do curativo: ele pode ficar na lesão por até sete dias. No entanto, pode ser necessário realizar a troca com antecedência, se o curativo estiver saturado ou sujo.
Hidrocolóide em Placa
A cobertura de hidrocolóide funciona para o tratamento e para prevenção de lesão por pressão.
Ele pode ser colocado diretamente sob área que apresentem risco para desenvolver a ferida, como nas exterminadas ósseas. Atua estimulando o desbridamento autolítico em lesões abertas.
A composição dessa cobertura é de caboximetilcelulose, que absorve exsudado e atua criando um ambiente propício para a cicatrização. Devido a seu principal papel ser de conter a exsudação e promover a cicatrização de lesões mais superficiais, não deve ser aplicada em lesões infectadas.
Período de troca: de três a sete dias, a depender do estado de conservação e saturação.
Ácido Graxo Essencial (AGE)
O AGE é composto por ácidos, como o caprílico, cáprico e láurico associados a vitamina A e vitamina E. Também podem estar presentes o óleo de girassol e a lecitina de soja.
O AGE atua protegendo e hidratando o tecido, promovendo um ambiente úmido ideal para a cicatrização. Pode ser aplicado diretamente em tecidos íntegros, ou em tecido de granulação, além de poder ser aplicado nas bordas da lesão.
O AGE é licenciado como cosmético no Brasil e não como medicamento farmacêutico. Por isso, existem inúmeras formulações no mercado, algumas com mais substâncias na composição, outras com menos.
O AGE também pode ser utilizado para prevenção de lesão por pressão, assim como o hidrocoloide em placa.
Período de troca: a cada 24 horas.
Creme Barreira – Coberturas para Prevenção
As coberturas com o creme barreira, são indicadas apenas para a prevenção de lesão por pressão, ou seja, nunca poderá ser aplicado diretamente sob o leito da lesão, apenas em pele perilesional.
Ele atua protegendo a pele ao redor da lesão de substâncias que são adstringentes e irritantes, como suor, urina, fezes, etc. Sua composição (água, petrolato, parafina líquida, cera micro cristalina, etc.) possibilita criar uma “barreira” de proteção para a pele íntegra.
Período de troca/reaplicação: o creme barreira é absorvido pela pele. No caso de haver, após 24 horas, resquícios do medicamento, deve-se higienizar a pele e reaplicar a medicação.
Hidrogel Com ou Sem Alginato
O Hidrogel, como o próprio nome diz, é indicado para hidratar o leito da lesão. Logo, sua principal indicação é para lesões com baixa exsudação ou secas.
O Hidrogel sem alginato (promove o desbridamento autolítico) pode ser aplicado em tecido de granulação, enquanto que o Hidrogel com alginato (desbridamento autolítico e enzimático) é bactericida e pode ser aplicado em tecidos infectados, como o esfacelo ou tecido necrótico.
O Hidrogel também promove a redução da dor, ao promover a hidratação das terminações nervosas do leito da ferida.
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Período de troca: a cada 24 horas.
Papaína – Cobertura de Diferentes Concentrações
A papaína é uma enzina retirada do mamão (espécie Caricas papaya” que possui a função de quebrar proteínas no leito da lesão. Ela pode ser produzida em diferentes formatos: pó, gel ou creme.
Observação: Alguns pacientes possuem o hábito de realizar preparados caseiros a partir do “leite” da fruta do mamoeiro. Deve-se orientar os pacientes a não utilizarem tais preparações, que podem representar sérios riscos à saúde do paciente e podem retardar o processo de cicatrização. Oriente o paciente a buscar por farmácias de manipulação, que podem produzir esse medicamento na concentração prescrita e seguindo os procedimentos de biossegurança recomendados para a produção de fármacos.
A papaína realiza desbridamento enzimático na lesão, e seu efeito perceptível pode levar semanas para ser notado pelo profissional de saúde ou pelo paciente.
Apresenta diferentes concentrações com diferentes finalidades.
De 1% a 2% – o efeito de desbridamento enzimático é mínimo. Portanto, pode ser aplicado diretamente em tecido de granulação. Como a concentração é mínima, o efeito também é muito reduzido.
De 4% a 6% – o efeito do desbridamento enzimático é moderado. Deve ser aplicada em necroso de liquefação, ou seja, em esfacelo.
De 8% a 10% – o efeito do desbridamento enzimático é alto. Pode ser aplicado em tecido ne犀利士 crótico coagulativo, ou seja, em tecido necrótico.
Período de troca: a cada 12 horas.
Colagenase
A colagenase é uma substância bactericida que atua quebrando moléculas das ligações peptídicas do colágeno (que constituem os tecidos mortos da lesão).
Dentre as coberturas apresentadas, esta possui um tempo de ação consideravelmente mais rápido.
Assim como a papaína, realiza desbridamento enzimático e auxilia no controle bacteriano ao atuar diretamente nos tecidos inviáveis (esfacelo e necrótico), promovendo rápida recuperação. Deve ser aplicada uma fina camada de cerca de 2 mm ao longo do tecido que será tratado.
Período de troca: a cada 24 horas.
Dica: para melhor absorção tanto da colagenase quanto da papaína, você poderá realizar a técnica de escarificação, ou seja, removendo uma parte do tecido necrótico ou fazendo pequenos cortes, para possibilitar uma melhor absorção do medicamento pela ferida.
E então, ficou com alguma dúvida em relação às coberturas apresentadas? Conta pra gente nos comentários!
Sobre o Autor
É enfermeiro, doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso. Também é Especialista em Saúde Pública e Apaixonado por Blogs, escreveu o seu primeiro na área de enfermagem ainda em 2014.