Vamos falar sobre os cuidados pós morte? Neste artigo abordagem muitos aspectos que as faculdades de enfermagem não te ensinam na prática. Confira!

Infelizmente, os temas voltados para a abordagem da morte e de doenças terminais são pouco falados nas faculdades de enfermagem. Muitas vezes, são até mesmo ignoradas pelos cursos, e os alunos vão para o mercado de trabalho totalmente despreparados! Isso ocorre, porque os cursos ainda são muito focados no aspecto curativo e muitos se sentem despreparados ao lidar com esse assunto.

O óbito e suas consequências

A morte do paciente sempre é um evento trágico, muitas vezes com grande abalo psicológico para os familiares e amigos. No entanto, frente a realidade da vida, a morte não deve ser encarada como algo que deve ser enfrentada a todo o custo, perante doenças progressivas e intratáveis.

Assim, é necessário ressignificar o processo de morrer, e encará-lo como uma última etapa, na qual todos estamos sujeitos. Nessas situações, é comum que os enfermeiros visem seus cuidados para os familiares, ajudando-os a lidarem com a perda daquele ente querido.

A partir dessa nova perspectiva, é importante que o profissional saiba reconhecer quando os pacientes estão com alto risco para o óbito, pois assim, poderão redirecionar suas ações da assistência para promover o conforte e bem-estar no paciente. Os cuidados de ordem paliativa, que visem minimizar a dor são essenciais nesse momento.

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Legalmente, a constatação do óbito é realizada pelo médico plantonista, no entanto, o cuidado com o corpo é responsabilidade da enfermagem. Esse cuidado será permeado de responsabilidade, pudor, privacidade e intimidade, de acordo com as premissas do nosso código de ética.

Principais cuidados de enfermagem

Em casos de morte natural, decorrente de doenças e processos inflamatórios, a família é orientada a estar próxima do paciente. Nessas situações, as visitas são mais flexíveis e podem ser estabelecidas de acordo com o desejo do próprio paciente.

Caberá a enfermagem promover um ambiente calmo e tranquilo, que permita aos familiares permanecerem com o paciente. As intervenções serão minimamente invasivas, com o objetivo de deixar o paciente o mais confortável possível.

Cuidados de enfermagem durante o óbito

Os cuidados após a identificação do óbito imediato serão voltados a deixar um ambiente calmo, com pouco transito de pessoas, além de fornecer suporte aos familiares. É comum que algumas pessoas possam ter queda de pressão arterial, desmaios ou outros sintomas.

Os procedimentos de enfermagem são:

  • O médico plantonista deverá constar a morte do paciente e preencher a declaração de óbito com a causa da morte;
  • A comunicação do óbito é realizada pelo enfermeiro ou médico, de acordo com os protocolos de cada hospital;
  • Proceder ao desligamento dos aparelhos que emitam sinais sonoros, como bombas de infusão, etc.
  • Atentar-se quanto a privacidade do falecido, assim como dos familiares. Em quartos compartilhados, pode-se utilizar biombos para separar os ambientes.
  • Manter ambiente calmo e tranquilo. Ao manipular no corpo do falecido, peça licença à família.
  • Realizar acolhimento humanizado aos familiares, oferecendo suporte emocional ou psicológico.
  • Deixar o falecido em posição prona, com os braços estendidos. Cobrir o corpo com lençol, evitando exposições desnecessárias.
  • Fechar olhos e boca do paciente. Pode-se recolocar a prótese dentária.
  • Deixar os familiares a sós com o falecido.
  • Explicar sobre os cuidados de enfermagem que serão realizados.
  • Respeitar rituais religiosos da família.

Cuidados de enfermagem no pós-morte

Os cuidados são direcionados ao preparo do corpo para o sepultamento. Eles são:

  • Solicite aos familiares para aguardarem do lado de fora do quarto.
  • Questionar quanto algum ritual ou costume que a família tem quanto a este momento.
  • Esclarecer quanto a possíveis dúvidas.
  • Reúna os materiais necessários e utilize os equipamentos de proteção individual (EPI’s).
  • Utilize algodão ou gaze (de acordo com o procedimento operacional padrão da unidade hospitalar) para realizar tamponamento nasal, fechar orifícios ou drenar fluídos.
  • Retirar sondas (vesical, de alívio ou quaisquer outras), dispositivos e cateteres.
  • Manter o falecido com os pés juntos, mãos sobre o abdômen, em decúbito dorsal.
  • Identificar o corpo, de acordo com o padrão do hospital.
  • Reunir documentos e pertences e entregá-los aos familiares.
  • Evitar que os familiares presenciem a retirada do corpo do quarto.
  • Realizar as anotações de enfermagem, contendo: data e hora do óbito, nome do médico, cuidados realizados junto ao paciente e possíveis intercorrências.
  • Realizar a limpeza terminal do leito/quarto.
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Após esse momento, a equipe de enfermagem poderá providenciar a retirada do corpo do falecido para a capela do hospital (caso necessário). Também é importante conversar com a família a respeito da funerária que irá realizar a retirada do corpo. Alguns hospitais tem câmara fria, utilizada para guardar o cadáver até que se resolvam os trâmites legais.

Atenção: em casos de morte violenta (decorrente de acidentes) ou morte suspeita (quando familiares ou a equipe médica suspeitam de que a causa da morte foi algo externo, como envenenamento), deve-se comunicar à delegacia da polícia civil para registro de boletim de ocorrência. Nesses casos, o delegado pode solicitar que o falecido passe por exame de necropsia no Instituto Médico Legal.

Em todos os casos, é importante que cada hospital tenha protocolos definidos para essas situações. Além disso, precisamos ressaltar que a enfermagem também pode sofrer com a perda ou com o luto dos nossos pacientes. Nesse sentido, é importante que os hospitais desenvolvam programas de acompanhamento e forneçam suporte psicológico sempre que possível.

Referências:

Resolução COFEN nº 564/2017. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE). [Internet]; 2017.

Sobre o Autor

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É enfermeiro, doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso. Também é Especialista em Saúde Pública e Apaixonado por Blogs, escreveu o seu primeiro na área de enfermagem ainda em 2014.