Você já ouviu falar em simulação clínica ou simulação em saúde? Essa técnica educacional tem um grande potencial atualmente, quando comparadas as técnicas tradicionais de ensino-aprendizagem!

Neste artigo, vamos explorar os potenciais da simulação clínica ou simulação realística no ensino em enfermagem.

Durante a maior parte dos cursos de graduação, os alunos vivenciam em sala de aula e em campos de estágios, procedimentos, fazeres e saberes da área da enfermagem. No entanto, devido a inúmeros fatores, essas experiências por vezes são limitadas.

Vejamos um exemplo: A enfermeira Ana, durante toda a sua graduação, teve pouquíssimas oportunidades de realizar procedimentos mais complexos, por exemplo: sondagens vesicais, auxiliar em paradas cardiorrespiratórias, cuidar de pacientes críticos, etc. Isso ocorreu devido ao fato de o curso de enfermagem que fez, estar localizado em município muito pequeno, onde a demanda era muito baixa, e a grande maioria dos casos clínicos serem leves a moderados, sendo que os casos clínicos mais críticos serem encaminhados a outros municípios.

A realidade da enfermeira Ana, é muito comum no Brasil. As experiências dos alunos em campos práticos são essenciais para a sua formação. Além do fator apontado pela enfermeira, também temos inúmeros outros, como: falta de oportunidades, cursos centrados em teorias e não em ambientes práticos, cursos desatualizados, professores inseguros, escassez de unidades hospitalares, e muitos outros.

A Simulação como Estratégia de Ensino

A Simulação vem como uma possível solução a esse grande problema que enfrentamos atualmente, pois ela consiste em utilizar técnicas que simulam a realidade com objetivos educacionais claros e específicos.

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A simulação é uma técnica já consolidada na literatura mundial e favorece o aprendizado de alunos, docentes, preceptores e enfermeiros dos serviços de saúde, ou seja, todos podem colher os benefícios dessas atividades. Por isso, algumas escolas e faculdades de enfermagem estão se mobilizando no sentido de ampliarem e equiparem os laboratórios de práticas para torna-los verdadeiros centros de simulação.

Apesar desses laboratórios demandaram custos, por vezes elevados, chamamos a atenção para o fato de que a simulação não depende exclusivamente de materiais caros ou manequins de última geração. Dá pra implementar essa atividade com materiais básicos e baratos, desde que se siga a metodologia adequada.

Além disso, a simulação pode ser replicada em várias disciplinas, podendo ampliar as experiências dos alunos de modo imersivo e em um ambiente seguro e controlado. Assim, essa estratégia pode contribuir para desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes nos estudantes, bem como protege os futuros pacientes de riscos desnecessários.

manequim de simulação clínica
Boneco de Simulação Clínica Entubado.

5 Benefícios da Simulação em Enfermagem

A simulação permite o desenvolvimento de cenários clínicos com diferentes níveis de complexidade, o que torna essa técnica excelente para fixar conteúdos teóricos.

Os benefícios são os seguintes:

1: A simulação contribui para a formação de enfermeiros mais experientes

Essa técnica permite que o aluno entre em contato mais direto com os pacientes, por meio de cenários e de manequins ou dos próprios colegas se passando por pacientes (dramatização).

Muitas habilidades e competências só podem ser desenvolvidas quando o aluno está junto aos pacientes, por exemplo, as habilidades relativas à comunicação.

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Na graduação, os alunos deverão ter proximidade com os pacientes. A vivência e a experiência na prestação de cuidados são essenciais. No entanto, a simulação pode ser introduzida no processo de aprendizagem para complementar essa formação. Assim, os alunos podem se aprimorar quanto a suas habilidades técnicas antes, por exemplo, de terem contato com pacientes reais, como saber resolver problemas e tomar decisões.

2: Permite que o Aluno Cometa Erros

 Na simulação, promove-se um ambiente seguro, onde o aluno possa trabalhar suas competências relacionadas ao cuidado. Muitas vezes, os alunos podem cometer erros simples ou erros graves, com repercussões negativas sobre o caso (por exemplo, a morte do paciente ou uma debilidade grave).

É muito importante que, após a simulação, o aluno reveja seus atos, reflita sobre eles e reconheça seus erros e suas potencialidades. Essa metodologia não pode ser utilizada para ressaltar os erros dos alunos. É importante que esse reconhecimento surja a partir dos próprios alunos que participaram da atividade. Cabe ao professor, conduzir os alunos e fazê-los refletir sobre o que vivenciaram durante a simulação.

3: Pode ser feita várias e várias vezes

A simulação permite que os alunos refaçam a atividade sempre que desejarem. Os alunos podem participar de um cenário, em seguida, refletir sobre o que aconteceu e, logo em seguida, participar do mesmo cenário. Geralmente, na segunda ou terceira vez, os alunos tendem a não cometerem os mesmos erros das primeiras vezes.

Isso favorece o aprendizado e permite maior confiança e segurança na hora de executar procedimentos.

4: Permite a Reflexão e a Autoavaliação, com Feedback Imediato

Essas duas possibilidades são importantíssimas para o aprendizado e crescimento profissional do aluno.

Após participarem dos cenários clínicos, os alunos são convidados a se sentarem em roda para discutir sobre o cenário. O professor pode conduzir a reunião e estimular o grupo a refletir sobre tudo o que aconteceu.

Esse momento é chamado de debriefing, e é o momento ouro da simulação, pois é ele que vai fundamentar e estimular a reflexão e o desenvolvimento de competências. Ele consiste em dar feedback ao aluno de seus desempenhos na atuação durante a simulação.

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Algumas salas de simulação contam com equipamentos de áudio e vídeo para gravação das atividades. Esses recursos auxiliam a rever as ações que foram tomadas no cenário, que podem ser objeto de reflexão.

Atualmente, o ensino em enfermagem é extremamente pautado na avaliação do docente sobre o aluno. É necessário, mais do que nunca, que os alunos aprendam a se autoavaliar. Com a autoavaliação, o próprio aluno desenvolve um senso de autocrítica e auto regulação, necessários ao desenvolvimento de competências profissionais.

Na autoavaliação, o aluno traça um olhar sobre o seu próprio desempenho, conhece suas potencialidades e descobre em que área poderia ter se saído melhor.

5: Aumenta a Confiança dos Alunos

A confiança dos alunos está diretamente relacionada aos saberes e fazeres apreendidos durante a graduação. Também é importante considerarmos que os alunos não sairão com todas as competências esperadas da graduação. Muitas delas serão desenvolvidas apenas quando eles estiverem no serviço.

No entanto, o processo de tornar os alunos mais confiantes é complexo e exige mobilização ampla de todo o corpo docente e estruturante das escolas de enfermagem.

Para tanto, é necessário tempos maiores em contato com pacientes reais. Quando essa possibilidade é reduzida, devido aos fatores que mencionamos anteriormente, pode-se utilizar a simulação como estratégia educativa fundamental para o aumento da confiança do profissional.

Os alunos que possuem confiança são mais seguros em suas decisões e mais assertivos. Consequentemente, são capazes de tomar decisões rápidas e eficazes, além disso, transmitem segurança à equipe e aos pacientes sob os seus cuidados.

Concluindo…

A simulação não tem o objetivo de substituir as vivências reais dos alunos com os pacientes. Ela vem como uma metodologia complementar e que pode ajudar muito no desenvolvimento de competências clínicas, senso crítico e senso avaliativo. Além disso, permite que os alunos tenham mais segurança, mais habilidades e mais consciência crítica e ética sobre os processos de cuidar.

Portanto, a simulação é uma estratégia educacional vital no ensino em enfermagem hoje em dia. Muitas escolas de enfermagem já estão se adaptando a essa nova realidade.

Você já participou de atividades simuladas? Conte-nos a sua experiência!

Sobre o Autor

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É enfermeiro, doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso. Também é Especialista em Saúde Pública e Apaixonado por Blogs, escreveu o seu primeiro na área de enfermagem ainda em 2014.