Existem diferentes tipos de anemia, no geral, ela é definida como uma “diminuição dos glóbulos vermelhos”. O diagnóstico pode ser realizado por meio de exames laboratoriais, que fornecem dados específicos no hemograma completo, como concentração de hemoglobina, hematócrito e/ou contagem de hemácias.

Lembre-se de que a hemoglobina é o componente do glóbulo vermelho que transporta oxigênio. Quando os níveis de hemoglobina estão baixos, o paciente fica com capacidade de transporte de oxigênio reduzida, o que pode levar à hipóxia tecidual (diminuição de oxigênio nos tecidos) e aos sintomas resultantes, como falta de ar.

No entanto, saiba que um nível baixo de hemoglobina também pode estar relacionado a outras causas, como exercícios físicos intensos, idade avançada e gravidez (devido ao aumento do volume plasmático). 

Por outro lado, a hemoglobina pode estar acima do normal devido a muitas razões. Exemplos:

  • Tabagismo: Quando um indivíduo fuma, o monóxido de carbono aumenta, o que reduz a entrega de oxigênio e estimula o corpo a aumentar a produção de glóbulos vermelhos. 
  • Hemoconcentração: Nos casos de hipovolemia ou desidratação, a concentração de hemoglobina será maior. 
  • Policitemia vera: Um distúrbio genético da medula óssea em que o corpo produz muitas células sanguíneas.
  • Altitude elevada: Isso causa uma “hipóxia relativa” que leva ao aumento da produção de hemácias como mecanismo compensatório.

Para que o corpo produza células sanguíneas saudáveis, é necessário que o corpo tenha quantidades suficientes de ferro, vitaminas e hormônios essenciais, como a tiroxina (produzida pela glândula tireoide). 

Classificação das Anemias

As anemias podem ser classificadas de várias maneiras, incluindo o volume corpuscular médio, a concentração de hemoglobina e a gravidade da anemia.

Volume Corpuscular Médio (VCM)

 Uma das formas de classificar a anemia é pelo volume corpuscular médio, que é o tamanho dos glóbulos vermelhos. Quando as hemácias são de tamanho normal, chamamos isso de “anemia normocítica”.

Isso pode ocorrer devido a condições como perda de sangue, doença renal crônica, câncer, anemia aplástica e anemia falciforme. Essencialmente, o paciente não tem hemácias suficientes, e as que têm são de tamanho e função normais.

Quando os glóbulos vermelhos são pequenos, eles não têm hemoglobina suficiente. Isso é chamado de “anemia microcítica”. A deficiência de ferro é a causa mais comum, mas outras causas incluem talassemias, anemia crônica, envenenamento por chumbo, deficiência de vitamina B6 e deficiência de cobre.

Quando os glóbulos vermelhos são grandes, isso é chamado de “anemia macrocítica”. Na anemia macrocítica, as células do sangue não possuem os nutrientes de que precisam para funcionar normalmente. Existem dois tipos de anemia macrocítica.

A anemia macrocítica megaloblástica ocorre com deficiência de vitamina B6 e/ou vitamina B12. Sem esses nutrientes essenciais, a medula óssea é incapaz de produzir hemácias saudáveis.

A anemia macrocítica não megaloblástica ocorre em condições em que o corpo é incapaz de absorver nutrientes, nos casos de síndrome mielodisplásica, hipotireoidismo e transtorno por uso de álcool. 

Concentração de hemoglobina

Outra classificação das anemias é pela concentração de hemoglobina na célula. 

  • Normocrômico: concentração normal
  • Hipocrômico: baixa concentração
  • Hipercrômico: alta concentração

Você verá frequentemente anemia definida pelo volume corpuscular médio e pela concentração de hemoglobina. Por exemplo, a anemia devido à perda aguda de sangue é “normocrômica e normocítica”.

A anemia por deficiência de ferro é “hipocrômica e microcítica” e a anemia por deficiência de vitamina B12 é “normocrômica e macrocítica”.

Gravidade da Anemia

Existe outra maneira de classificar a anemia, baseada na gravidade.

A anemia moderada está presente quando a hemoglobina é de aproximadamente 7 a 10 g/dL. Muitos pacientes no cenário clínico apresentam anemia moderada com sinais e sintomas mínimos ou inexistentes.

A anemia grave está presente quando o nível de hemoglobina está abaixo de 7 g/dL

Sinais e sintomas da anemia

Os sintomas gerais da anemia estarão relacionados à menor capacidade de transporte de oxigênio do sangue e aos mecanismos compensatórios do corpo. Os sintomas geralmente não são evidentes até que a anemia se torne moderada ou grave.

Os sinais e sintomas gerais incluem:

  • Taquicardia, palpitações
  • Hipotensão
  • Dor no peito (angina)
  • Dispnéia ao esforço
  • Palidez
  • Fraqueza, fadiga
  • Tonturas ou síncope, dor de cabeça

Tipos de anemia

Agora vamos ver os principais tipos de anemia, suas características e tratamentos. 

Anemia por deficiência de ferro

A anemia por deficiência de ferro ocorre devido a níveis de ferro abaixo do normal. É o tipo mais comum de anemia e geralmente é causado por perda de sangue (hemorragia). 

Sinais e Sintomas

Além dos sinais e sintomas gerais de anemia, aqueles com anemia por deficiência de ferro podem ter distrofia da unha (unhas no formato de colher), pernas inquietas e glossite atrófica que é uma língua lisa e brilhante devido à ausência de papilas filiformes. Esta condição pode causar dor, boca seca, dormência e até perda do paladar. A anemia por deficiência de ferro geralmente causa compulsão em comer substâncias estranhas (geralmente gelo, sujeira, argila ou amido).

Causas

A anemia por deficiência de ferro ocorre quando não há ferro suficiente no corpo. Isso pode ser devido a: 

Perda de sangue através de condições como sangramento gastrointestinal ou menstruação intensa. Observe que a perda de sangue é a causa mais comum de anemia por deficiência de ferro. 

Má absorção de ferro que pode ocorrer na doença celíaca, doença de Crohn, colite ulcerativa e infecção pela Helicobacter pylori. Também pode ocorrer após a cirurgia do trato gastrointestinal, como cirurgia para perda de peso. Em casos raros, pode ocorrer devido a condições genéticas.

Os medicamentos que a pessoa usa também podem causar má absorção de ferro. Os mais comuns são medicamentos que diminuem a acidez estomacal, como inibidores da bomba de prótons (ex: pantoprazol), antiácidos e bloqueadores dos receptores de histamina (ex: famotidina).

Um dieta pobre na ingestão de ferrotambém pode contribuir para causar esse tipo de anemia. Isso geralmente ocorre em crianças entre 9 meses e 1 ano de idade. Também é mais comum em vegetarianos.

O tratamento com a eritropoietina, que é um hormônio glicoproteico que regula a eritropoiese, atuando sobre as células progenitoras eritroides na medula óssea, pode esgotar os estoques de ferro do corpo, pois é organismo é estimulado a produzir mais glóbulos vermelhos. 

A hemodiálise também pode causar anemia por deficiência de ferro. Um estudo mostrou que pacientes em hemodiálise podem perder até 2 g de ferro por ano. 

A gravidez também pode fazer com que as reservas de ferro sejam baixas. Durante a gravidez, o corpo produz mais glóbulos vermelhos para sustentar o feto em desenvolvimento, que consome as reservas de ferro da mãe.

Por esta razão, são prescritas vitaminas pré-natais om ferro. Se não for tratada, há um risco maior de trabalho de parto prematuro e de o bebê ter baixo peso ao nascer, atrasos no desenvolvimento assim como, desenvolver anemia.

Tratamento

O tratamento da anemia por deficiência de ferro dependerá da causa. Este tipo de anemia é mais frequentemente devido à perda de sangue, portanto, um tratamento fundamental é identificar a fonte do sangramento e tratá-lo. Em casos graves, podem ser necessárias transfusões. 

A baixa ingestão de ferro ou má absorção também pode levar à anemia, de modo que o indivíduo deve receber suplemento de ferro. Para aumentar a absorção, os suplementos devem ser tomados com vitamina C (como suco de laranja) e não devem ser tomados ao mesmo tempo que antiácidos.

Os pacientes devem saber os efeitos colaterais da suplementação de ferro, que incluem desconforto gastrointestinal, constipação e um gosto metálico na boca. Quando o medicamento for líquido, recomenda-se que se use um canudo, pois o ferro pode descolorir os dentes.

Você também aumentar a concentração de ferro no organismo por meio da dieta, consumindo mais feijão, carne vermelha magra, ovos, pão e cereais integrais, vegetais folhosos verdes e peixes. Cozinhar em uma frigideira de ferro fundido também pode aumentar os níveis de ferro.

Casos graves podem exigir suplementação de ferro intravenoso, que pode ser administrada em pronto socorro ou clínicas de saúde.

Anemia por deficiência de vitaminas

A anemia por deficiência de vitaminas ocorre quando o corpo não tem vitamina B12 e/ou folato suficientes para produzir glóbulos vermelhos saudáveis. A anemia perniciosa é um tipo de anemia relacionada à vitamina B12. 

Sinais e Sintomas

Além dos sinais e sintomas gerais de anemia, o paciente com anemia por deficiência de vitaminas pode ter dificuldade para andar, diarreia, perda de peso, alterações no paladar e olfato e glossite atrófica (inflamação da língua).

Além disso, se não for tratado, o paciente pode apresentar sintomas neurológicos que não estão necessariamente relacionados à anemia, mas à deficiência vitamínica. Estes incluem perda de memória, confusão, movimentos musculares descontrolados ou espasmos, dormência/formigamento, problemas de visão e alterações de humor.

Causas

A causa da anemia por deficiência de vitaminas é um baixo nível da vitamina B12 e/ou folato. Isso pode ser devido a: 

  • Ingestão dietética pobre de vitamina B12. Como o corpo não consegue produzi-la, ela deve ser obtida através da alimentação. Indivíduos vegetarianos ou veganos estritos estão em maior risco de deficiência dessa substância.
  • A alta ingestão de álcool pode afetar a capacidade do corpo em absorver nutrientes, incluindo B12 e folato.
  • Os medicamentos também podem causar deficiências vitamínicas, incluindo antibióticos, antiácidos, metformina (medicamento para diabetes) e fenitoína (anticonvulsivante).
  • Infecções por tênia podem levar a níveis mais baixos de vitaminas.
  • Algumas condições aumentam o risco de anemia por deficiência de vitaminas. Estes incluem Diabetes tipo 1, doença da tireóide, colite ulcerativa, doença de Crohn, pancreatite crônica e vitiligo. A anemia por deficiência de vitaminas também pode estar relacionada a um distúrbio genético.

A anemia perniciosa é um tipo específico de anemia por deficiência de vitaminas em que a B12 não pode ser absorvida no trato gastrointestinal devido à falta de fator intrínseco (uma proteína produzida pelas células parietais no estômago). Esta é uma condição auto-imune em que os anticorpos atacam as células que compõem o revestimento da mucosa do estômago.

Tratamento

O tratamento da anemia por deficiência de vitaminas será focado no tratamento da causa subjacente. 

Suplementos dietéticos de B12 e folato podem ser prescritos. O indivíduo também será aconselhado a aumentar a ingestão dessas vitaminas essenciais.

Boas fontes de B12 incluem ovos, peixe, queijo, leite, carnes vermelhas magras, frango, iogurte e cereais fortificados. As fontes alimentares de folato são folhas verdes escuras, feijão, frutas frescas, grãos integrais, frutos do mar, ovos e alimentos fortificados, como cereais.

A anemia perniciosa pode ser tratada com injeções intramuscular de B12 ou possivelmente altas doses de suplementos orais. 

Casos graves podem exigir transfusão de sangue.

Anemia aplásica

A anemia aplásica é uma condição grave que ocorre quando há uma falha da medula óssea em produzir células sanguíneas adequadas.

Embora possa ser um distúrbio hereditário, geralmente se desenvolve em crianças e adultos jovens. Muitos pensam que é uma doença autoimune. Uma biópsia da medula óssea é necessária para diagnosticá-la.

Sinais e Sintomas

Além dos sinais e sintomas gerais de anemia, existem alguns que são muito específicos para anemia aplásica. Estes incluem infecções de longa duração, hematomas e sangramento, petéquias, hemorragia da mucosa e sangramento menstrual muito intenso (menorragia).

Além disso, a característica definidora desse tipo de patologia é a perda de células-tronco hematopoiéticas. Estas são as células da medula óssea que se desenvolvem em diferentes tipos de células sanguíneas. O paciente terá pancitopenia, o que significa que todas as linhagens de células sanguíneas estarão baixas (hemácias, leucócitos e plaquetas).

Causas

A anemia aplásica é devido a uma falha da medula óssea. Em muitos casos é idiopática, o que significa que não há causa identificável. No entanto, muitas vezes acredita-se que seja devido a danos autoimunes das células-tronco hematopoiéticas.

A destruição dessas células também pode ocorrer devido a radioterapia, infecções virais (HIV e hepatite) e exposição a produtos químicos tóxicos, como pesticidas, benzeno e produtos químicos industriais. Em casos raros, a anemia aplásica pode ser hereditária.

Certos medicamentos também podem causar anemia aplásica: 

  • Quimioterapia
  • Medicamentos para convulsões (fenitoína, ácido valpróico, carbamazepina e felbamato)
  • Nifedipino – um bloqueador dos canais de cálcio usado no tratamento da hipertensão e angina pectoris
  • Sulfonamidas, como Bactrim – um medicamento comum usado para tratar infecções como infecções do trato urinário e bronquite
  • Cloranfenicol – um antibiótico usado para tratar infecções graves, incluindo meningite e cólera
  • Azatioprina – um imunossupressor usado para prevenir a rejeição do transplante renal, bem como a artrite reumatoide grave

Tratamentos

O tratamento da anemia aplásica é abordar a causa subjacente sempre que possível. Os pacientes provavelmente precisarão de transfusões de sangue e podem receber injeções de eritropoietina para estimular a medula óssea a produzir hemácias. Casos graves podem exigir transplante de medula óssea.

Anemia hemolítica

Na anemia hemolítica, os glóbulos vermelhos são destruídos mais rapidamente do que o corpo pode substituí-los. As anemias hemolíticas são classificadas em intracorpusculares ou extracorpusculares.

  • Intracorpuscular: Defeitos dos glóbulos vermelhos (ex: falciforme e talassemia)
  • Extracorpuscular: as hemácias são danificadas por fatores externos (ex: transfusão de hemácias, malária e presença de microtrombos).

Sinais e Sintomas

Além das características gerais da anemia, os sinais e sintomas incluem aumento do baço e/ou aumento do fígado. Pacientes com doença muito grave ou não tratada podem desenvolver insuficiência cardíaca, arritmias ou aumento do tamanho do coração. 

A anemia hemolítica pode surgir rapidamente, o que causa uma rápida diminuição da hemoglobina com um aumento da contagem de reticulócitos (os reticulócitos são glóbulos vermelhos imaturos).

O paciente também pode ter urina escura ou urina tingida de sangue devido à hemólise e hemoglobina livre circulante. Além disso, a hemoglobina livre circulante das células destruídas pode causar insuficiência renal aguda, icterícia (pele amarelada), trombo e coagulação intravascular disseminada. Observe que casos leves podem não apresentar sintomas. 

A anemia falciforme especificamente pode causar um evento incrivelmente doloroso chamado crise vaso-oclusiva, tornando a dor um sintoma importante dessa condição.

Causas

A anemia hemolítica ocorre quando as hemácias são destruídas no baço ou na corrente sanguínea mais rapidamente do que podem ser substituídas pelo corpo.

A hemólise estimula o corpo a produzir eritropoietina que, por sua vez, leva à produção de novas hemácias. Esses novos eritrócitos (reticulócitos) são imaturos e não funcionam de maneira ideal.  

Embora alguns tipos de anemia hemolítica sejam herdados, como anemia falciforme e talassemia, ela também pode ser adquirida. Algumas causas adquiridas incluem: 

  • Infecções virais e bacterianas (ex: hepatite, citomegalovírus, Epstein-Barr, malária)
  • As válvulas cardíacas mecânicas podem danificar as hemácias levando à hemólise
  • Condições autoimunes, incluindo artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico
  • Distúrbios da medula óssea e câncer de sangue
  • Reação de transfusão de sangue
  • Medicamentos – os mais comuns são as cefalosporinas (uma classe de antibiótico). Outros medicamentos culpados incluem anti-inflamatórios não esteroidais, levodopa, quinidina e levofloxacina. 
  • Alguns tumores 
  • Picadas de cobra venenosa

Quanto às condições hereditárias, a talassemia é um grupo de distúrbios hereditários que afetam a produção de hemoglobina. A anemia falciforme é outra forma de anemia hemolítica hereditária.

Na anemia falciforme, as hemácias são rígidas e malformadas, de modo que não fluem facilmente através da microvasculatura. Essas células ficam alojadas nos vasos em uma condição muito dolorosa conhecida como crise vaso-oclusiva.

Tratamento

Tal como acontece com as outras anemias, o tratamento se concentrará na causa subjacente. Transfusões de sangue podem ser necessárias e alguns pacientes precisarão de remoção cirúrgica do baço, o que os coloca em alto risco de infecção. 

Tratamentos específicos para talassemia incluem transfusões de sangue, terapia de quelação e transplante de medula óssea. A terapia de quelação pode ser necessária para remover o excesso de ferro que pode se acumular com transfusões de sangue frequentes.

Os tratamentos específicos incluem transfusões de sangue, analgésicos durante a crise e medicamentos que visam diminuir a hemólise e a frequência de crises vaso-oclusivas. Esses incluem:

  • Hidroxiureia (Hidreia) 
  • Voxelotor (Oxbryta) 
  • L-glutamina (Endari) 
  • Crizanlizumabe (Adakveo) 

Espero que este guia te ajude a entender melhor o tratamento, sintomas e medicamentos utilizados no tratamento dessa doença. Tem alguma dúvida? Compartilhe com a gente!

Sobre o Autor

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É enfermeiro, doutor em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso. Também é Especialista em Saúde Pública e Apaixonado por Blogs, escreveu o seu primeiro na área de enfermagem ainda em 2014.